É quando o silêncio me
abafa que eu sinto que nunca estive a tempo no sitio certo; que nunca fui
oportuno e perspicaz, que não percebi o tempo que o tempo leva a ser.
É quando o silêncio me agarra
que eu sinto que nunca corri na direcção certa, no momento correcto; nunca nos
instantes em que o devia ter feito, e em que nunca os devia ter largado.
É quando o silêncio me amordaça
que eu sinto que nunca disse o que devia, quando e como devia; que nunca te
disse o quanto gostava de ti quando era certo, e que nunca te disse que
partisses quando era devido.
É quando o silêncio me
engasga que eu sinto que nunca fui eu quando podia, e que fui outra coisa
qualquer quando não devia; que nunca me mostrei a quem devia, e que me escondi
na sombra quando a luz brilhava mais forte.
É quando o silêncio me abraça
que eu sinto que sempre fui fugaz e que nunca fui inteiro; que deixei partir na
corrente o que não devia, e que me agarrei ás tábuas erradas, na esperança que
daí faria uma canoa.
É quando o silêncio me trava
que eu sinto que tracei os planos errados, que procurei as coisas erradas, nas
pessoas erradas; que nunca tomei as decisões correctas, e que adiei os passos
que me levariam ao destino.
É quando o silêncio me aperta
que eu sinto que à minha volta que todos partiram, não sei bem para onde, nem
bem porquê; mas partiram.
No seu tempo, que podia
ter sido o meu.
É quando o silêncio me aconchega
que eu sinto os passos errados cravados no peito, deixando marcadas as falhas
do que nunca foi; que percebo que os sinais estavam lá, que as pessoas estavam
lá, que as oportunidades aconteceram.
É quando o silêncio me acolhe
que eu sinto que já não sei se quero ir e voltar a falhar á chamada, e a faltar
á hora do compromisso; porque não ir ,não é deixar de tentar, é, pelo menos,
não ter dúvidas que falhei.
Quando te vi, ou voltei a
ver, nem eu sei, tive a certeza; e percebi que tudo isto foi verdade, em
silêncio, real.
Tudo isto menos eu.
Tudo isto aconteceu;
menos eu.
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