Wednesday, February 10, 2010

Daily entry 2.9


"Às vezes interrogo-me onde vou buscar tanta serenidade na espera, como é que ainda acredito que posso cruzar a realidade com a perfeição, de onde vem toda esta luz que me transforma num farol e faz com que chegues sempre são e salvo, sem nunca, por uma vez que seja, te enganares no caminho. É que o amor, que às vezes também se engana, há outras em que acerta sem precisar do relógio, e quem sabe se nós não acertámos no tempo, no espaço e no modo, como fazem os nossos corações quando me encostas à parede e eu vejo tempo parar, suspenso num eternidade só nossa que me faz pensar que afinal valeu a pena esperar tanto tempo por ti. Por isso a espera é quase nada e quase tudo, é a tua imagem no ar, a tua luz no escuro, um fio firme e esticado que me vai guiando pela vida. A espera é só o tempo de deixar crescer aquilo que há de ser. E é sempre pouco, quando se tem tanto para dar e receber." M.R.P.

Não tomei o fio às horas, deixei-as à deriva. Sentei-me, inspirei o vazio, e fiz de conta não estar cá.
O silêncio da ausência falou mais alto, mas eu mantive-me altivo na poltrona. Não chorei, nem gemi.
Fiz-me forte, consciente que foi o melhor a fazer.


É à beira do abismo que descobrimos se somos homens ou anjos. Chegou o momento; já chegamos.
Agora é só avançar no vazio e acreditar num almofada de nada.
Já não há nada a fazer, nem opções por tomar. Só avançar.
Aí, perdidos no meio do nada, sentindo o vento entrecortar-nos os pulmões e a queda a roubar-nos o ar veremos de que somos feitos. Então, ou se abrem as asas ou se perdem os medos.
A escolha está feita, e não é minha. Este é o salto de uma vida, a descoberta da essência e a rotura do passado. Homem ou Anjo?
Os dois, mas só na queda se saberá qual é mais nós e qual somos mais.