Acho que está na hora de fazer as malas. Acho mesmo.
Acho que está, finalmente, na altura, de exorcizar os demónios, condenar os fracassos, e rumar, para onde quer que seja. De pegares na trouxa, e zarpares. Içares velas, medires os ventos, sentires a brisa, o trautear das gaivotas.
Não podes tomar o medo das ondas pelo medo das tempestades, nem o medo do azul longínquo pelo medo do rebentar das vagas.
Ondas vão; ondas voltam.
Navios afundam, marinheiros perdem-se, brisas partem e não voltam mais.
O mar, azul, esse, fica lá; e não foge.
O horizonte, inóspito e desafiante, esse, não se esconde.
O pôr-do-sol, bravio e fulgurante, esse não desiste de ti.
Ondas vão; ondas voltam.
O sal queima no toque da pele, trazendo saudades de mergulhos e voos razantes. Há pegadas na areia, cordames que nunca saíram do cais; amarras que nunca tocaram a proa, e arpões que jazem no convés. A popa está virada a Oriente, como que de que cara voltada ao mundo, à luta no azul grande.
As redes estão secas, e os motores que vieram substituir as velas de outrora, estão secos e encostados.
Por isso basta.
Ondas vão; ondas voltam.
Está na hora de partir, sem pensar mais no outrora; de encostar a cabeça ao vento e deixar o coração torcer o leme.