Wednesday, July 07, 2010

tradutor de comportamentos...

... para amantes desiludidos.

comportamento/interpretação

"não lava as mãos antes de comer/é um porco
lava as mãos antes de comer/é obcecado com a limpeza
fala demasiado/é aborrecido; acha-se importante; diz disparates.
fala pouco/é desinteressante; não tem nada para dizer.
preocupa-se com a aparência/é vaidoso; é narcísico; é superficial.
não se preocupa com a aparência/é desleixado; é preguiçoso; é feio.
passa o tempo com os amigos/põe os amigos acima da relação.
não passa muito tempo com os amigos/é anti-social.
lê muito/tem a mania que é intelectual
lê pouco/é um ignorante
faz desporto/preocupa-se demasiado com o corpo
não faz desporto/é preguiçoso.

aos poucos a pessoa perfeita vai descendo do pedestal num processo de desidealização. o ser etéreo vai perdendo o seu estatuto semidivino e torna-se humano, pois afinal, os deuses não tiram macacos do nariz nem falam com vozes irritantes, cometem erros gramaticais, cheiram mal dos pés ou possuem qualquer outro destes pequenos defeitos que foram tão generosamente distribuídos pela nossa espécie."
nuno amado


3 comments:

ag said...

Todavia o processo de idealização é, sem dúvida, os dos principais elementos fomentadores de uma paixão. A resistência a quando de repente se tornam humanos - com defeitos e afins - é que possibilita o amor; de tal ordem que até os defeitos acabam por um elementos instigador desse amor. O amor é a genuína imperfeição. No entanto às vezes não resiste à colmatagem do idealizado e do real - são demasiado diferentes, o que por muitas vezes nos prende ainda mais, por ser tão diferente: uma pessoa quiçá integralmente diferente com o mesmo corpo de quem fitamos e idealizamos, não corresponderá ao real. Naturalmente que, claro, aqui tratam-se de assuntos totalmente diferentes - apesar de andarem na mesma linha. A criação de um amor inatingível não é platónico, é simplesmente irrealizável, tanto que nem conhece a realidade desse objecto. Já o amor supera isso tudo de uma forma idílica e quem sabe, idealista. Os defeitos são uma condição limerante. Apesar de discordar acredito, taicturnamente, no que muitos psiquiatras e psicanalistas diziam: o amor platónico é uma doença digna de internamento!


Mas sim, de uma forma cómica, é interessantíssimo :)

bruno lopes said...

quando acabe ambos, devolvo o empréstimo, e empresto-te este, para que melhor digas de tua justiça.

e já que tomaste o tema da "perfeição", deixo-te com algo que já aprendi, e que mal ou bem me tem ajudado neste espaço; eu acho que ela é perfeita porque me habituei a essa ideia, e porque a fiz crescer dentro de mim. por muito que eu pense que "ela" era "a tal", ela não era, senão ainda estaríamos juntos (é um ponto que todos os autores concordam). eu apaixono-me pelo esboço da peça, e aprendo a gostar dos detalhes; agora, tenho que me desligar dos detalhes, porque são esses que me prendem a ela. não é o bom gosto, não é o carinho, não é a forma de estar que acendem a chama, isso já eu aprendi; é o inicio, a reacção quimica e animal. o que vem a partir daí é acréscimo, e por isso tenho que me desligar disso. senão, das duas uma: ou não avanço, ou avanço em busca de um clone, e isso não é verdadeiramente avançar pois não?

ag said...

Penso que, sem sombra de dúvidas, tu próprio já te respondeste. A pergunta irónica é também retórica e encerra a resposta que tu tanto buscas.
Em verdade, tudo o que tu disseste é aquilo que precisas de fazer, todavia ainda estás afeito a essa ideia - ou eu percebi mal da última conversa que tivemos sobre isso, ou interpretei mal - de perfeição projectada, não necessariamente real. Todas as perguntas que tu te questionavas, a resposta, em ti, era pia mas não se coadunava intrinsecamente com a realidade. Doutra forma não estavas na situação em que estavas. Ou seja tu afizeste-te à concepção de perfeição, vias o que nesse objecto existia e o que não existia, afora na tua mente. Claro que este esmiuçar é apenas para exortar a tua própria auto-análise. O meu "medo" é se, efectivamente ficaste-te pelo desenho que tu próprio preencheste - e deleitavas-te com esses pormenores - ou se alguma vez interpretaste a fotografia de onde partiste...

Como bem disseste talvez o segundo livro, mais hipotético tenha uma visão mais empirista e quiçá coadunável connosco e com esse objecto; enquanto que o livro que te facultei visa uma desfragmentação racional do que, efectivamente, se passa connosco e a nossa relação com o objecto amado, muitas vezes ilusório (mesmo que concreto). Reitero novamente, quando aceitares que uma almofada é só uma almofada, tudo faz sentido e voltamos tacitamente ao real.