Thursday, September 23, 2010

mau tempo

este, tirei-o eu do baú.


'Todos os dias acordo á tua espera, Sol; ultimamente não tens vindo.

Dizes que ainda não é tempo; que já cá estiveste as vezes que te bastassem para a altura.
Contudo, dizem-me as flores do meu jardim, que para ti abrem as suas pétalas ás primeiras horas da manhã, que tu tens andado por aí.
Ages como se quisesses fazer notar tua presença, sem querer, pelo contrário, ser notado.
Estranho? Sim, estranho. Nome e verbo.

Não é a primeira vez que, ao acordar, ainda vejo o teu rasto, antes das nuvens terem sequer tempo de o ocultar de mim. Participas com uma passividade activa nesse papel que ainda não me revelaste.
Mesmo assim, todo os dias, acordo á tua espera Sol; mas, ultimamente não tens vindo.

Mandaste-me em teu lugar uma nubilidade nublada.
Deixaste-me entregue ao cinzento, á chuva, e aos ventos inabaláveis.
Quando saio para a rua são, agora, eles quem me recebem, ao contrário de outrora, quando me desejavam os bons-dias, os teus raios, o teu calor, a tua luz.

Tudo isso vale a pena acordar, vale a pena aspirar por amanhã, pelas horas da madrugada, pelo raiar do dia. Vale a pena saltar do calor da cama, para buscar um outro calor que vem de dentro para fora. Um calor tão intenso, num fluxo tão constante, que nem nos deixa perceber se é de mim para ti ou de ti para mim.


Será, tudo isto, porque tens feito o que não sentes, ou, porque não tens feito o que sentes?'

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